quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

EU COMIGO




comigo é meu companheiro
de dia, à tarde, à noite
escolhido fiel quanto queira
fazendo encantada e satisfeita
nossa intensa sintonia.


Anna Dulce Pelajo

QUELLE COÏNCIDENCE...??




na véspera você passou por nós
de um jeito inimaginável
no dia seguinte nada sabíamos
no terceiro dia fizeram questão de nos apresentar:
quem seria você para mim?!
quem seria eu para você?!

Começamos a querer saber.


Anna Dulce Pelajo

PRISIONEIRO




em frenéticos gemidos
assombrado e em pecado
das entranhas se ouviam
latidos e miados
do personagem fraco
sem água, sem comida
acorrentado, quase nada
provavelmente nunca amado.


Anna Dulce Pelajo

A BANANEIRA




a bananeira é alegre
independente
consequentemente verde
a melodia de seus membros
entoando guizos sonoros
realça a passagem do vento
soletra a mensagem do tempo.


Anna Dulce Pelajo

O TEMPO




quem é ele, o tempo?
ideia sofisticadíssima
ao mesmo tempo rotineira
que ninguém sabe,
ninguém apalpa,
ninguém vê,
mas que passa galante,
companheiro e sempre?!


Anna Dulce Pelajo

PRAIA MINHA




acordo
troco sonho por pegadas
atenta, quase calada
vislumbro o infinito do meu dia
que sem rumo ainda
parte a cada nova manhã
a cada novo desenho.


Anna Dulce Pelajo

BRINCANDO DE NADA QUER (SONETINHO PREGUIÇOSO)




gosto de te olhar pé
com esse jeito de Zé
quando nada me dar quer
a não ser dengo e colher de chá

por assim deitado ficar
a brincar de implicar com o par
com esse jeito de pé
com essa cara de Zé

que só cansado se faz
uma ou outra vez jamais
essa gostosura de criança

de se remexer como quem dança
numa sensação de plurais
que nem a preguiça desfaz.


Anna Dulce Pelajo

SEM JEITO DE CIDADE




aonde mora esse galo
que canta pertinho de casa
às 4:40 da madrugada?
com que direito o bendito
começa tão cedo a jornada
fora da fazenda e da milharada?

galo coitado, desavisado
que fugiu de seu reinado
pela esperança da cidade
e acabou desafinado.

será que se chama Fidalgo?
mas Fidalgo não chamaria
e a vizinhança não acordaria
assim sem jeito, desinformado.

galo coitado, que fugiu de seu reinado
pela ganância da cidade.

o que na verdade
pensará esse galo
que perdeu sua identidade
seu poleiro e sua rotina?

ah, esse galo não combina
com a cantoria da cidade
tão cansada, tão sem graça
para um galo e sua sinfonia.

(galo estressado demais seria!)


Anna Dulce Pelajo

EM DIA




esse exercício de felicidade
diário, intenso, sublime
a nos alimentar a existência
e suas frequentes necessidades
faz de nós seres aprimorados.


Anna Dulce Pelajo

FÔLEGO




o compasso acelerando o passo
movimentando a leveza do laço
apraz, desfaz, refaz
o cantar múltiplo do meu querer.


Anna Dulce Pelajo

POR QUÊ ?




e por que não lutar, não oferecer
por que não buscar, não querer
por que se anonimar
assim tão conformado,
com jeito de criança amedrontada?


Anna Dulce Pelajo

MEIGO RECADO




a avezinha trouxe um recado
em seu bico pequenino
dizia tão lindo assim:
ao invés de alpiste
me alimento de infinito.


Anna Dulce Pelajo

RUÍNA




ouvi o recado de sua voz
             profundo
a mastigar cada emoção
desafiando a distância
até fazer doer
seu triste coração
a torturar inclemente
seu último vestígio de coragem.


Anna Dulce Pelajo

O RISO E O SORRISO




o riso é façanha sem teoria
de um coágulo de felicidade
que se instalou no peito
bem junto ao espetáculo
do improviso da liberdade.

o sorriso,
esse vem do paraíso.


Anna Dulce Pelajo

FOFOCA BOA




estou namorando
um beija-flor dengoso
todos os dias ele vem me ver e sentir

acredito que já já, o meu jardim será nosso!!


Anna Dulce Pelajo

TANTO CARINHO




é impossível não crer
em quem carinhosamente
viajou companheiro em tantos pensamentos
dividiu em abraços seu peito quente
e revelou amáveis estrofes
de tantos anos seus interessantes.


Anna Dulce Pelajo

SEMPRE MAIS




as vozes realçam
a melodia da vida
no encontro com outros seres
a quem escolhemos
trocar nossos desejos.


Anna Dulce Pelajo

PRECE FÉRTIL




estrelinha lá de dentro
estrelinha que é só minha
pisca, pisca, amadinha
iluminando meu caminho.


Anna Dulce Pelajo

AMIGO




no mormaço febril do dia acinzentado
descalço e aflito em seu quarto
o percebi pela janela
sua tênue figura
se alinhava inteira
através do vidro empoeirado
eu passei, me calei
naquele banco de calçada
deliciosamente a desfrutar
de seu coração quieto
sua alma receptiva
seus compassos armazenados
ao longo desse trajeto fantástico e árduo.


Anna Dulce Pelajo

ENSAIO DE VERÃO




o carinho do sol penetra
janela aberta
iluminando com intimidade
o acordar mais cedo
o charme dividido de um começo
o disputar sem medo
um alegre assobio
no leve humor do bom-dia.


Anna Dulce Pelajo

DOCE CERTEZA




quem me ouve ser feliz
neste momento exato
em meu peito a alegria máxima
em minha alma passos divertidos
quer comigo ser feliz.


Anna Dulce Pelajo