brinca em silêncio
companheiro de paz
meu espírito agradecido
existindo quase apenas
nesses momentos
dos puros, enigmáticos e imortais
contornos do entardecer.
Anna Dulce Pelajo
brinca em silêncio
companheiro de paz
meu espírito agradecido
existindo quase apenas
nesses momentos
dos puros, enigmáticos e imortais
contornos do entardecer.
Anna Dulce Pelajo
poeminha meu
meu poeminha pequenino
bem do tamanho de uma flor em botão
vontade tanta vontade a minha
de conquistá-lo em versos
acreditá-lo verdade.
Anna Dulce Pelajo
Imagem: Vyacheslav Mischenko
invoca-me o chá às profundezas imaginárias
atrai-me ao seu reino de tapetes requintados
já no primeiro beijo abraça meu espírito ávido
de paladares mestres, desconhecidos e mágicos
gole por gole vou sorvendo o encanto cor de ébano
num ritual intenso e delicado
permitindo-lhe revelar o dom de seu fascínio
na intimidade do prazer somado.
Anna Dulce Pelajo
gelado nem pensar
frio é de amargar
mas um gostoso cafezinho
é pra matar de carinho
às vezes uma única xicrinha
não é suficiente:
necessita-se mais um cafezinho
acompanhado
de seu cardápio de significados.
Anna Dulce Pelajo
enroscadinhas uma a uma
branquinhas, muito felizes
mensageiras de carícias
em um mundo mais distante
me olhavam abraçadinhas
atraindo minha atenção suavemente.
suavemente, enquanto me sorriam independentes.
Anna Dulce Pelajo
sinto a chuvinha macia derramando
suas gotas sentidas implorando
que deixemos calar, ouvir e então gozar
seu pranto suave querendo regar.
Anna Dulce Pelajo
a joaninha é vermelhinha, vermelhinha
redondinha, pequenininha
usa vestidinho de bolinhas pretas
para distrair outros bichinhos
enquanto faz faxina e alegria pelo jardim
adora chamar a atenção das crianças,
a minha também.
aprendi que é símbolo de boa sorte e fartura em muitas culturas.
Anna Dulce Pelajo
preciso de seu olhar
preciso de seu peito
preciso de seu talento.
nem preciso dizer pra quê:
só preciso sentir
e fazer você sentir também.
Anna Dulce Pelajo
Galopa cavalo branco
e dá-me alento em teu galope.
Galopa sem as fraquezas do cansaço
preciso chegar à próxima parada.
Faz muito frio em meu peito agora
frio de incompreensão e morte.
Não pares para descansar, não.
Preciso ultrapassar a mata fechada
onde o perigo ruge por toda parte.
Galopa e em teu galope
protege o desvio de minha sorte
que me endurece a carne, os olhos, as artérias.
Preciso como nunca confiar em teu galope.
Anna Dulce Pelajo
saudade daquele velho
sábio velho do mundo
que em tudo me fez acreditar
e já no primeiro dia
meu coração e minha alma visitou
saudade daquele velho
velho amigo querido
que vale toda a saudade
empilhada em meu peito amigo
repleto de saudades.
Anna Dulce Pelajo
o inverno tímido e ansioso
sempre na dúvida de nosso amor
mas a sugerir tocas e silêncios
temperos, crenças e aconchegos
se aninha, repousa e quer calor.
Anna Dulce Pelajo
de todas as maneiras
o mar me convida
me inspira
me faz pensar, mergulhar
me calar
me faz avaliar suas marés, seus devaneios
suas correntes, seus segredos
me faz sempre mais íntima da vida
me faz sempre mais acreditar:
sou-lhe grata por todas as maneiras de mais amar!!
Anna Dulce Pelajo
sem ver você
o tempo foi vivendo
ou deixei-o passar morrendo assim
irresponsável
carente de nossa amizade
bruscamente interrompida
entre receitas de mousses
e apêndices do dia-a-dia.
Anna Dulce Pelajo
voltar ao meu aconchego
aonde moram meu jardim
meus amores, meus encantos
meus travesseiros, meu chuveiro
minha simpática geladeira.
Anna Dulce Pelajo
Foto tirada do jardim de casa.
a primavera conquistando
suas escolhas, seus namoros
flores apaixonadas
se percebendo, conversando, se amando
em todos os idiomas.
Anna Dulce Pelajo
Foto: Flores do jardim de casa.
quando tudo se mexe e remexe
em coincidências lá no fundo
nossas peles se arrepiam
nossos olhos brilham iluminados pela magia
sem perceber ainda
que almas se ampliam
a cada vez que nos aprofundamos
de amor pelo Outro.
Anna Dulce Pelajo
o soberano manto das garças
sensibiliza o perfil das águas
branco e espelho se confundem
dançando asas multiplicadas
passos impunemente despojados
um só silêncio.
Anna Dulce Pelajo
pula em cócegas
o piolho penetra
escondido entre travesseiros de seda
chinesa
louquinho atrás do sangue azul da
princesa.
Anna Dulce Pelajo
cuidados
afagos
aconchegos
segredos
risos, rimas
cobiçados olhares
palavras, paladares
cheiros
desejos
beijos
abraços requintados
abraçados
repletos de alma
de amor
de segredos da felicidade.
Anna Dulce Pelajo
dois corpos sugerem odores e festa
homem e mulher provocam o amor
dois corpos ondulam e se roçam
mãos alegres, pés através
mulher e homem desagasalham seus pudores
beijam-se em abraços, abraçam-se em beijos
até que seus suores gemendo cúmplices
jogam nocaute dois corpos vencidos.
Anna Dulce Pelajo
a vida e seu tempo
a vida e seu talento
a vida e sua dinâmica infinita
a vida conquistando a vida
a vida defendendo a vida
a vida experimentando o amor
a vida vibrando esse suor magnífico.
Anna Dulce Pelajo
as espumas do mar
revoltas e brancas
são segredos das ondas
contados em desabafos
chegam chorando à praia
delineando o pranto suave
no consentimento por inteiro
das areias muito amadas.
Anna Dulce Pelajo
oh! alma itinerante
tão complexa e amante
dos encantos da vida
dos segredos contidos
nas alamedas e sorrisos.
Anna Dulce Pelajo
meus cabelos estão molhados
delicados
improvisados
sentindo cheiro de liberdade
vontade de azul do céu
mar aberto, conversas intermináveis.
Anna Dulce Pelajo
há dias em que os motivos
se agitam, se ampliam
precisando mais e mais
acreditar:
nada inspira tanto quanto
o desejo de olhar para frente
e sonhar acordado
com o valor de uma bela sinfonia
de nosso fiel espírito iluminado
repleto de capacidades.
Anna Dulce Pelajo
viver é resistir à vida
vivendo por inteiro
o conteúdo pleno de um apelo
o embaraço amargo dos estilhaços
o choro contido das indefinições dos sentidos
na sensação de que és, vida
um sofisticado duelo de aprendizes.
Anna Dulce Pelajo
Hoje bem cedinho, vida acordando ainda, regava meu jardim.
Ele me dizia do seu amor: me olhava com tanto carinho, tanta cumplicidade, que eu passei o resto do dia apaixonada.
Anna Dulce Pelajo
Foto tirada do jardim de casa.
encontrei hoje bem cedinho
você em meus pensamentos:
me enchia de beijos e carinhos!!
Anna Dulce Pelajo
silêncio agoniado
a se embrenhar pelo deserto
entre areias desenhadas
sopradas por lampejos de saudade
silêncio ouvinte
pausa de vento
silêncio perverso
gelado e descoberto
no silêncio de ninguém
vazio por alguém.
Anna Dulce Pelajo
nem pense nisso:
não adie o melhor que sentimos
desses encontros de afinidades sossegadas
querendo sempre ser felizes, entusiasmados.
Anna Dulce Pelajo
As serenas tartarugas já nascem adultas:
símbolos de sabedoria
ainda bem pequeninas
carregam em sua experiência
costas marcadas, enrugadas
certa timidez, pernas incansáveis
esconderijo próprio.
Vontade firme de senhora cascuda
força paciente de quem entende e persiste
silenciosa, atenta, aprendiz
sábia como a própria natureza milenar
vivendo o itinerário de sua longa existência.
Anna Dulce Pelajo
as pétalas são folhas suaves
em desenhos combinados
para juntas, bem juntinhas
formarem uma bela flor.
Anna Dulce Pelajo
olho a lua insinuante
joia rara imaginada
toda beleza e profundezas
escuta e palavras ao outro.
Jamais me canso.
Anna Dulce Pelajo
quem entende de ser feliz
vive aprimorando tal talento
pulsando a vontade de quem passa
a vida inteirinha a amar:
ama com a respiração
o olhar, os ouvidos
o toque, o cheiro, o beijo
sentido de amor verdadeiro
todinho arte e imensidão.
Anna Dulce Pelajo