UM POETA SEM SONO
cai em transe
um poeta sem sono
ah, alma audaciosa
que pretende o mundo inteiro
vivo e esculpido
em uma folha de papel
possuído.
Anna Dulce Pelajo
cai em transe
um poeta sem sono
ah, alma audaciosa
que pretende o mundo inteiro
vivo e esculpido
em uma folha de papel
possuído.
Anna Dulce Pelajo
eu hoje acordei pensando nela, a felicidade
essa palavra esculpida, comprida, delicada e linda
como se fora uma paisagem, um convite
um poema, um percurso.
Anna Dulce Pelajo
entes de nossos quereres
somos seres solares, familiares
únicos
habitamos universos em mentes diversas
abraçamos sentimentos, buscas, inquietudes
contrastes, necessidades, carícias
somos nossas próprias fontes
nossas próprias chances.
Anna Dulce Pelajo
amanheceu com a lua vagando indecisa
em conflito por ir-se embora
desaparecer àquela hora, se o dia apenas acordava?
inquieta flagrou-se:
o azul sentia já tão claro, ofuscando-a
o sol ardia possessivo
não se foi:
ousada e ansiosa
valente e caprichosa
quis saborear a essência da claridade
mesmo acreditando
que seu domínio vinha da noite, não da aurora.
Anna Dulce Pelajo
a prece tatuada
no silêncio da alma
a beleza refletida
no espelho do corpo
a percepção evoluída
no universo da mente
e você acordado
exigente e solícito
por ser capaz de amar.
Anna Dulce Pelajo
e a lua cheia
radiante e linda
cumpria seu papel de dama da noite
espalhando encantos e paixões.
Anna Dulce Pelajo
Foto tirada do jardim de casa.
Vivemos nos lamentando
da correria do tempo
de seus caprichos e escolhas
Tempo mágico, apressado
independente e ao mesmo tempo
nossa mais desafiante companhia.
Anna Dulce Pelajo
olho a lua insinuante
joia rara imaginada
toda beleza e profundezas
escuta e palavras ao outro.
Jamais me canso.
Anna Dulce Pelajo
o riso é façanha sem teoria
de um coágulo de felicidade
que se instalou no peito
bem junto ao espetáculo
do improviso da liberdade.
o sorriso,
esse vem do paraíso.
Anna Dulce Pelajo
o ar que respiro é sagrado
é impulsão e expulsão de mim mesma
instinto de vida defendido
entre risos e soluços permitidos.
Anna Dulce Pelajo
ontem, já madrugada
procurando pela lua amada
meus olhos algumas vezes
escorregavam pelo jardim
enquanto sentia folhas sonolentas
quase, quase adormecidas
agradecendo meu olhar apaixonado.
Anna Dulce Pelajo
Foto tirada do jardim de casa
Galopa cavalo branco
e dá-me alento em teu galope
Galopa sem as fraquezas do cansaço
preciso chegar à próxima parada
Faz muito frio em meu peito agora
frio de incompreensão e morte
Não pares para descansar, não
Preciso ultrapassar a mata fechada
onde o perigo ruge por toda parte
Galopa e em teu galope
protege o desvio de minha sorte
que me endurece a carne, os olhos, as artérias
Preciso como nunca confiar em teu galope.
Anna Dulce Pelajo
a poesia
quis fazer graça comigo
me chamando
toda exibida
para passear na avenida
olhando a vida
se alegrar se conquistar
a cada novo sorriso
a cada fiel esperança.
Anna Dulce Pelajo
na véspera você passou por nós
de um jeito inimaginável
no dia seguinte nada sabíamos
no terceiro dia fizeram questão de nos apresentar:
quem seria você para mim?!
quem seria eu para você?!
Começamos a querer saber.
Anna Dulce Pelajo
as árvores
são crianças felizes
adolescentes em flor
mulheres radiantes
senhoras incríveis
seu destino se parece com a própria seiva
a alegria de seus verdes
a sabedoria de suas raízes.
Anna Dulce Pelajo
a inspiração não chega sozinha
vem sempre acompanhada
de motivação, ritmo, caminhadas
de sonhar poesia
frequentando noites estreladas
luas digníssimas
madrugadas abraçadas.
Anna Dulce Pelajo
a lua plena
para você e para mim
iluminava de carícias prateadas
nossas almas enfeitiçadas.
Anna Dulce Pelajo
Foto tirada do jardim de casa.
estou namorando
um beija-flor dengoso
todos os dias ele vem me ver e sentir
acredito que já já, o meu jardim será nosso!!
Anna Dulce Pelajo
ouvi dizer que meu beija-flor dengoso
esse bendito tesouro escondido
está viajando com sua vontade linda
de conhecer a vida e seus suaves licores.
Anna Dulce Pelajo
Imagem: Chris Lacaille
linda, a poesia
não tem limites de conquistas
passeia intuitiva e verdadeira
enquanto multiplica
desejos, proezas, contornos, natureza
enquanto apazigua e faz feliz.
Anna Dulce Pelajo
guardei de Você, Você, Você
os temperos incríveis que aprendi um dia
moro hoje na intenção
de criar um prato predileto
com sabor de iguarias inesquecíveis.
Anna Dulce Pelajo
voltará criança
e um dia
o desejo de juventude
quando heroicamente
atingirmos a velhice.
Anna Dulce Pelajo
Saudade
por que te chamo para dentro de mim?
Saudade
por que me angustio com tuas carícias?
Saudade
por que de inquietude te anseio e te recuso?
é porque te creio:
és vida, retorno, instinto, fantasia
fome, desânimo, paixão, alegria
redemoinho de vida, de verdades,
és todo o meu passado.
Anna Dulce Pelajo
meus olhos vivem querendo pousar nas flores
como as borboletas e esperanças
grilos falantes e joaninhas
libélulas apaixonadas e outros tantos sabidinhos.
Anna Dulce Pelajo
quando somos levados pela correnteza
a um mergulho banal
nos secamos rapidamente
se pretendemos a lucidez.
Anna Dulce Pelajo
estrelinha lá de dentro
estrelinha que é só minha
pisca pisca, amadinha
iluminando meu caminho.
Anna Dulce Pelajo
quem é ele, o tempo?
ideia sofisticadíssima
ao mesmo tempo rotineira
que ninguém sabe
ninguém apalpa
ninguém vê
mas que passa galante
companheiro e sempre?!
Anna Dulce Pelajo
alisando com seu brilho macio
pele sensível e tão mágica
a seda tornou-se confidente
daqueles sentidos acumulados
ardentes e pedintes de afagos.
Anna Dulce Pelajo
o vento sopra relaxado
a essa hora da tarde
e galhos secos das árvores
esboçam contornos suaves
na terra nua
para deleite dos deuses.
Anna Dulce Pelajo
As árvores já nascem
com ar de soberanas
têm no nome o ar que respiram
na força a elegância feminina.
Anna Dulce Pelajo
sol clandestino de um inverno
roubei-te a sombra de um suspiro
para viver na penumbra
de um aconchego de amor
amor que nos fez cúmplices
inspirando felizes
nossos mais radiantes motivos
os dias acontecem em nós dois
as noites são parceiras desses dias
como olvidar o tempo?
Anna Dulce Pelajo
a avezinha trouxe um recado
em seu bico pequenino
dizia tão lindo assim:
ao invés de alpiste
me alimento de infinito.
Anna Dulce Pelajo
ouvi o recado de sua voz
profundo
a mastigar cada emoção
desafiando a distância
até fazer doer
seu triste coração
a torturar inclemente
seu último vestígio de coragem.
Anna Dulce Pelajo
o soberano manto das garças
sensibiliza o perfil das águas
branco e espelho se confundem
dançando asas multiplicadas
passos impunemente despojados
um só silêncio.
Anna Dulce Pelajo
o pontilhado mundo das estrelas
em sua tonalidade diamante
faz tatuar madrugadas perfeitas
em motivos de amor verdadeiro.
Anna Dulce Pelajo
a bananeira é alegre
independente
consequentemente verde
a melodia de seus membros
entoando guizos sonoros
realça a passagem do vento
soletra a mensagem do tempo.
Anna Dulce Pelajo
quando o mar espuma
histérico e sem rumo
enroscando-se em faminta versatilidade
avançando em fluxos e refluxos iminentes
sem querer faz sentir medo:
por tamanha fúria, consequente mistério
sem querer beleza:
por tanta verdade, magia da natureza
que ele obedece sem lamúrias, altaneiro.
Anna Dulce Pelajo
Aquele homem sentado
olhando o mundo
com o semblante apagado
não é um vagabundo
parece cansado
Das indefinições da estrada
na terra envelhecendo
sem querer quase nada
precisando de quase tudo
No olhar perdido
reconhece a fadiga
nos lábios quietos
os sussurros incompreendidos
As mãos enrugadas
já não mais apalpam
os sentidos da carne
que outrora carícias abrigavam.
Não sei se maltratado
belo ou calejado
alinha-se na exata medida
que por certo o domina
em seu discreto equilíbrio
Sabendo de quase tudo
sem poder dizer quase nada.
Anna Dulce Pelajo
no mormaço febril do dia acinzentado
descalço e aflito em seu quarto
o percebi pela janela
sua tênue figura
se alinhava inteira
através do vidro empoeirado
eu passei, me calei
naquele banco de calçada
deliciosamente a desfrutar
de seu coração quieto
sua alma receptiva
seus compassos armazenados
ao longo desse trajeto fantástico e árduo.
Não quis escrever uma carta fofoqueira:
eu precisava falar só de mim
escutar só de você.
Anna Dulce Pelajo
benquerer
bem sentir
bem retribuir
agradecendo todas as belezas que a vida traz
a nos lembrar
que somos uma festa de sentimentos e conquistas.
Anna Dulce Pelajo
o tempo
sempre ensinando
a excelência do mundo
a mensagem de cada segundo viajante
que vive pela intenção de tudo e de todos
sempre absoluto.
Anna Dulce Pelajo
quem me ouve ser feliz
neste momento exato
em meu peito a alegria máxima
em minha alma passos divertidos
quer comigo ser feliz.
Anna Dulce Pelajo
ouço alguém
acariciar minha janela
com dedos indiscretos e múltiplos
e me ponho ereta
a escutar tais impulsos
certa daquele tato pálido
porém constante:
me pergunto extasiada?!
foi talvez meu coração
sussurrando por conquistas
ou seria minha alma
se adivinhando aflita?!
Anna Dulce Pelajo
cuidados
afagos
aconchegos
segredos
risos, rimas
cobiçados olhares
palavras, paladares
cheiros
desejos
beijos
abraços requintados
abraçados
repletos de alma
de amor
de segredos da felicidade.
Anna Dulce Pelajo