terça-feira, 3 de dezembro de 2024
SUSSURRO
ouço alguém
acariciar minha janela
com dedos indiscretos e múltiplos
e me ponho ereta
a escutar tais impulsos
certa daquele tato pálido
porém constante:
me pergunto extasiada?!
foi talvez meu coração
sussurrando por conquistas
ou seria minha alma
se adivinhando aflita?!
Anna Dulce Pelajo
AMIGO

no mormaço febril do dia acinzentado
descalço e aflito em seu quarto
o percebi pela janela
sua tênue figura
se alinhava inteira
através do vidro empoeirado
eu passei, me calei
naquele banco de calçada
deliciosamente a desfrutar
de seu coração quieto
sua alma receptiva
seus compassos armazenados
ao longo desse trajeto fantástico e árduo.
Anna Dulce Pelajo
BRINCANDO DE NADA QUER (SONETINHO PREGUIÇOSO)

gosto de te olhar pé
com esse jeito de Zé
quando nada me dar quer
a não ser dengo e colher de chá
por assim deitado ficar
a brincar de implicar com o par
com esse jeito de pé
com essa cara de Zé
que só cansado se faz
uma ou outra vez jamais
essa gostosura de criança
de se remexer como quem dança
numa sensação de plurais
que nem a preguiça desfaz.
Anna Dulce Pelajo
TRANSE AUDACIOSO
UM POETA SEM SONO
cai em transe
um poeta sem sono
ah, alma audaciosa
que pretende o mundo inteiro
vivo e esculpido
em uma folha de papel
possuído.
Anna Dulce Pelajo
O VELHO

Aquele homem sentado
olhando o mundo
com o semblante apagado
não é um vagabundo
parece cansado
Das indefinições da estrada
na terra envelhecendo
sem querer quase nada
precisando de quase tudo
No olhar perdido
reconhece a fadiga
nos lábios quietos
os sussurros incompreendidos
As mãos enrugadas
já não mais apalpam
os sentidos da carne
que outrora carícias abrigavam.
Não sei se maltratado
belo ou calejado
alinha-se na exata medida
que por certo o domina
em seu discreto equilíbrio
Sabendo de quase tudo
sem poder dizer quase nada.
Anna Dulce Pelajo
MISTÉRIO
quando o mar espuma
histérico e sem rumo
enroscando-se em faminta versatilidade
avançando em fluxos e refluxos iminentes
sem querer faz sentir medo:
por tamanha fúria, consequente mistério
sem querer beleza:
por tanta verdade, magia da natureza
que ele obedece sem lamúrias, altaneiro.
Anna Dulce Pelajo
A BANANEIRA
a bananeira é alegre
independente
consequentemente verde
a melodia de seus membros
entoando guizos sonoros
realça a passagem do vento
soletra a mensagem do tempo.
Anna Dulce Pelajo
O COQUEIRO
o coqueiro é galante
apaixonado
é pura insinuação
sua juba verdejante
conjuga paisagem e conteúdo
deliciosamente.
Anna Dulce Pelajo
ANGRA QUERIDA
pertinho de minha janela
bem pertinho aquela tarde
escutava o canto das águas
combinadas com a maré
águas do mar se assanhavam
em rebeldia, em maresia
azuis e verdes se acrescentando
eu bebia, bebia o amor daqueles momentos
bebia e sonhava acordada
olhos fechados
respirando vida e águas salgadas.
Anna Dulce Pelajo
O RISO E O SORRISO
o riso é façanha sem teoria
de um coágulo de felicidade
que se instalou no peito
bem junto ao espetáculo
do improviso da liberdade.
o sorriso,
esse vem do paraíso.
Anna Dulce Pelajo
PENSANDO NELA
eu hoje acordei pensando nela, a felicidade
essa palavra esculpida, comprida, delicada e linda
como se fora uma paisagem, um convite
um poema, um percurso.
Anna Dulce Pelajo
DOM MAIOR

viver é resistir à vida
vivendo por inteiro
o conteúdo pleno de um apelo
o embaraço amargo dos estilhaços
o choro contido das indefinições dos sentidos
na sensação de que és, vida
um sofisticado duelo de aprendizes.
Anna Dulce Pelajo
OBRA DE ARTE
Nuca - esboço de artista
em pele de camurça
febril disputa
de risos, arrepios, dedos macios
exótico esconderijo
do suor descendo morno
ao roçar de amados lábios.
Anna Dulce Pelajo
IMENSO DESAFIO
Galopa cavalo branco
e dá-me alento em teu galope
Galopa sem as fraquezas do cansaço
preciso chegar à próxima parada
Faz muito frio em meu peito agora
frio de incompreensão e morte
Não pares para descansar, não
Preciso ultrapassar a mata fechada
onde o perigo ruge por toda parte
Galopa e em teu galope
protege o desvio de minha sorte
que me endurece a carne, os olhos, as artérias
Preciso como nunca confiar em teu galope.
Anna Dulce Pelajo
A SEDA A MULHER E A SEDE
alisando com seu brilho macio
pele sensível e tão mágica
a seda tornou-se confidente
daqueles sentidos acumulados
ardentes e pedintes de afagos.
Anna Dulce Pelajo
DESFILE
a nuca
musa de bela postura
bela musa equilibrista
desfila talentos e atitudes
em importantes estilos.
Anna Dulce Pelajo
FÉ
Deus revela
chamas acesas
contornos e delicadezas
num universo disperso em luz elétrica.
Anna Dulce Pelajo
SAÚDE
a prece tatuada
no silêncio da alma
a beleza refletida
no espelho do corpo
a percepção evoluída
no universo da mente
e você acordado
exigente e solícito
por ser capaz de amar.
Anna Dulce Pelajo
TRAJETO

nas estrelas de caminho aberto
estrada alerta
minhas mãos palpitam
de mãos suas - noite intérprete
cantigas de longe incentivam
convidando a seguir com alegria
o trajeto caprichoso
que se apresenta concreto
aparenta universo
se alimenta incompleto
da noite que extasia.
Anna Dulce Pelajo
SEMPRE VERDE
verde bendito verde
de tantos verdes
em desigual perfeição
vestido em dons
revestido em múltiplos tons
verde tantos verdes
fascínio e liberdade
simplicidade e força apaziguados.
Anna Dulce Pelajo
EVIDÊNCIA
é noite
madrugada
já é amanhã
antiga certeza
de passos seguindo
segundo a segundo
menos crianças
a cada nostalgia
a cada anseio
a cada saudade.
Anna Dulce Pelajo
O CHÁ E SEU SILÊNCIO
verdade que o chá é silêncio e posse desvendados
silêncio e paz de inevitáveis impregnados
quando em sua transparência acalma a ansiedade
de escaladas íngremes, sonhos e pecados
do burburinho aflito, cansado de cidade.
Anna Dulce Pelajo
DA CASINHA
falar com você
deste ambiente tão particular
tão belo, tão meu, tão proprietário
de meu felizardo coração!!
Anna Dulce Pelajo
Foto tirada do jardim de casa.
MENDIGO
possuía
um querer mostrar-se
em não sentir
gozava
de um incontido
débil e cruel
acreditava
num humor falso alheio
olvidava
o pudor impuro
de seu riso tolo
era um ser atormentado
obscuro no tormento
era uma paixão
no amor de um descaminho.
Anna Dulce Pelajo
GENTIS TRAVESSEIROS
travesseiros, travesseiros
quase humanos companheiros
de moradia, de acalanto
de sonhos e pesadelos.
Anna Dulce Pelajo
A BRISA
anoitecia
a brisa soprava em carinhos
fazendo dançar folhas sensíveis
imensamente felizes em seus devaneios.
Anna Dulce Pelajo
MINHAS FORTES PAREDES
as paredes que moram comigo
são delicadas, sinceras, modernas
sabem ser independentes
sabem ser amigas
sabem ser fortes motivos de aconchego.
Anna Dulce Pelajo
AMANHECENDO
meu dia raiou
como estava lindo
as montanhas eram mais verdes
o céu mais amigo do azul
as estrelas pareciam ainda acordadas
o sol dava gargalhadas
eu não me ouvia, não era possível
soluçava de entusiasmo e vida!!
Anna Dulce Pelajo
AMIGO PP
Amigo PP
puro e simples como o nome
bem do tamanho do oceano.
Amigo PP
cara de sonho, de outono
jeito de encanto e areia branca
na intenção de ser encontro e ser gigante
ser PP e ser criança.
Anna Dulce Pelajo
BELAS EMOÇÕES
As belas emoções não precisam ser só as minhas:
Posso sentir o belo em seus motivos.
Anna Dulce Pelajo
BANHO FELIZ

muito carinho
promete esse banho
pouco apressado
a serenar corpo e alma
em sábias,
benditas águas!!
Anna Dulce Pelajo
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